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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Steampunk (cenário)



O ano é 1830. Caças ao tesouro em países tidos como místicos, como o Egito, são comuns. O Museu Britânico, em Londres, já a tempos aumenta muito o seu acervo. Em uma das escavações egípcias cientistas descobrem o carvânico, um tipo de combustível sólido visualmente parecido com o carvão mas cuja queima produz uma quantidade muito maior de energia térmica, e a tecnologia a vapor começa a ser mais explorada, devido a possibilidade de motores menores e, portanto, de construção mais barata. Somado à tecnologia dos motores Stirling (que seria aperfeiçoada ao longo do século), impulsionou a revolução industrial, deixando a eletricidade esquecida (alguns dirão que as mortes precoces e acidentais de cientistas ligados ao desenvolvimento de estudos sobre o eletromagnetismo e a condutividade elétrica são as principais responsáveis por este abandono, mas tais acusações são vistas com desdém pelo povo, que as vê como teorias de conspiração sem relevância).
Na década de 1840 a medicina tem grandes avanços, impulsionada pela necessidade criada pelo êxodo rural e pela superpopulação das cidades que se industrializavam cada vez mais. No fim da década o renomado ex-químico e médico Dr. Frankenstein afirma ter descoberto o segredo da vida, reanimando um morto. Ele é internado num hospício e, com incontroláveis crises de ansiedade, afirmando que deveria procurar pela “criatura” foragida, acaba lobotomizado.
Já na década de 1850 a química consegue criar um composto fluorescente que, aos poucos, começa a substituir as lamparinas a querosene. Essa tecnologia, porém, é muito cara, e apenas as casas dos muito abastados tem tais “globos de luz”. Esses globos brilham muito mais do que as lamparinas (de 50 a 80 velas), podendo sozinhos iluminar cômodos de tamanho considerável. O composto, porém, é altamente tóxico, e acidentes causando o rompimento do vidro dos globos já mais de uma vez mataram famílias inteiras. A loucura de Frankenstein é ligada aos estudos preliminares da substância. A química é, porém, uma área muito restrita, não sendo ensinada em cursos comuns, mas apenas através de discipulado.
Em 1860 os grandes dirigíveis já são comuns, pilotados através de hélices que funcionavam com a tecnologia Stirling para a movimentação e de um sistema de contrapesos para o direcionamento. O maior dirigível já feito chega a permitir que aviões planadores sejam levados aos céus para de lá alçar voo. Se começa a buscar isolantes térmicos mais compactos e leves, de modo que os motores sejam cada vez menos motivo de queimaduras (às vezes sérias) em tripulações e convidados.
As guerras criadas pela eugenia europeia se espalham ainda mais, dizimando tribos inteiras de colônias e ex-colônias.
1870. Os primeiros aviões com motor próprio (movidos por hélices) alçam voo. Três marujos narram a existência de um barco que navega por baixo do mar, um submarino, como eles chamam. Dizem ter cruzado o mundo neste invento, que funcionava a base de eletricidade gerada através da água salgada. São tidos como loucos e desaparecem da sociedade. Descrevem em suas histórias o Maelstrom, que é prontamente investigado pelo jornalista sensacionalista, Sr. Edgar A. Poe. Eles também dizem ter visto o lendário Kraken de perto. Claro que Charles Darwin os ridiculariza.
Buscando aumentar a capacidade produtiva de uma sociedade cada vez mais assolada pelas doenças que acompanham a falta de saneamento básico as empresas começam a distribuir “vacinas” a seus trabalhadores. Os efeitos são variáveis, indo desde um aumento da força física até a capacidade do usuário ficar sem comer ou dormir por dias ininterruptamente. O efeito para a indústria é positivo, mas para a classe operária, porém, é muito negativo: as vacinas são caras e viciantes, e famílias inteiras, mesmo crianças, se veem viciados e endividados, nascendo um “escravismo moderno”, já que funcionários ficavam presos a seus patrões por suas dívidas. Na década seguinte as vacinas começariam a aparecer no mercado negro, mais baratas do que nas fábricas. Mais perigosas também.
No fim da década se começa a desenvolver tecnologias que possibilitem um controle mais preciso dos motores de combustão externa. Isso culminaria na criação dos primeiros automóveis e motocicletas no início da década seguinte, e dos autômatos, no final dela.
Já na década de 1880, Graham Bell finaliza a criação do fotófono, aparelho que permite o diálogo a distância, enviando som através da luz. Se inicia a procura por materiais capazes de conduzir a luz de forma linear, de modo que se possibilite a utilização do fotófono a grandes distâncias, como entre cidades, ou mesmo continentes. Se considera, ainda, a possibilidade de utilização de ondas ultravioleta (a Luz Negra, já alcançada pela química fluorescente).
Ainda no começo do século, a ciência da mente se desenvolve e a parceria entre o Dr. Freud e o Dr. Jekill os leva para o caminho do que virá a ser a psicanalise. A teoria diz que a cultura reprime a natureza humana a ponto de alguns seres deixarem de se reconhecer em si próprios. O desenvolvimento da teoria do complexo de Édipo é a última colaboração de Jekill com Freud. Ele desaparece durante o fim dos experimentos, enquanto Freud escreve sobre a dualidade entre o homem que ama a mãe e o homem que odeia o pai.
Nas colônias e ex-colônias da África e da América (principalmente do sul), a caça ao tesouro iniciada no início do século continua. Os primeiros autômatos surgem.
O jogo se inicia em 1888.

Sonhos



Eles saltaram do bonde a vapor ainda em movimento e se dirigiram a uma grande porta de madeira que os levaria ao destino que eles preferiam evitar. Atrás da porta um estreito beco, do tipo nunca frequentado por homens de boa índole. O beco cheirava a urina, fezes e podridão. As bases das paredes, desgastadas pela ação prolongada do ácido úrico, faziam com que estas dançassem com o forte vento daquela noite, parecendo tão distantes da sobriedade quanto aqueles que as desgastavam constantemente. Com passos firmes entre aqueles que não mais conseguiam firmar as pernas, passavam duas sombras.
— Sinto pena dessas pessoas, sabia?
— Eu não. Eu sinto asco! E aqui não é um bom lugar pra conversar.
— Às vezes acho que nenhum lugar mais é.
A dupla de detetives passou pelo beco sem outras palavras, exceto as que os sentidos teimavam em tentar trazer ao consciente e a hipocrisia escondia sob o tapete, com as desculpas de "não há mais salvação" e "eles escolheram o próprio caminho".
— Chegamos.
Ao fundo um globo de luz brilhava, vermelho. O fluorescente líquido interno não o preenchia completamente, sinal de que houvera (e talvez ainda houvesse) algum vazamento. Os dois seguranças embaixo do globo, guardando a porta, não aparentavam medo da morte horrível que todos sabiam que um vazamento causaria a qualquer humano, sinal de que o problema já era passado. Ou que a longevidade não era uma preocupação típica daquele tipo de pessoa. Nenhum dos detetives saberia o exato motivo, um por experiência demais, o outro por experiência de menos. Foi um daqueles seguranças que barrou os detetives:
— Perdidos, senhores?
O sotaque causou estranhamento ao detetive mais jovem. Ele falava como um russo, mas suas feições não demonstravam tal origem. Era, talvez, egípcio, ou indiano. Estrangeiros de pele escura realmente não eram sua especialidade. A ciência dizia que eram inferiores e ele não encontrava motivo para discordar. O outro detetive tomou a frente e a palavra.
— Garanto que não nos perdemos, senhores. Na verdade procuramos por diversão, e acredito que acabamos de encontrá-la.
— E o que te dá essa certeza?
— Ora, nós não chegaríamos até esta porta sem detalhadas instruções de um confiável amigo. Um amigo que nos disse que haveria aqui um grande cientista, dado como desaparecido, e seu sábio patrono, um homem de visão, um homem que nos venderá grandes e belos sonhos, pela quantia certa.
Os seguranças se entreolharam.
— E seu amigo te disse a senha?
— Sandman.
Novamente os seguranças se entreolharam, e o que estava próximo à porta tirou uma chave do bolso. A porta foi aberta. Agora não havia mais volta.
Os detetives entraram e, ainda que a noite estivesse escura la fora, os olhos demoraram a se acostumar à nova realidade. O salão era completamente iluminado por luz negra, com um palco no meio do salão e diversas mesas ao redor, todas ocupadas. No palco uma dançarina seminua se exibia ao som do sax, num melancólico teatro de lentos movimentos.
Quando conseguiram ver melhor o lugar foram para o bar, à direita do palco. O bartender parecia hipnotizado pela mulher no palco, e demorou a atendê-los. Ao menos ofereceu-lhes um sorriso falso.
— O que desejam?
— Sonhos.
O sorriso morreu.
— Procurem em seus travesseiros.
— São desconfortáveis.
O sorriso voltou.
— E por quê eu lhes daria?
— Porque podemos pagar.
O jovem detetive se espantou com a resposta. Aparentemente as senhas haviam acabado, e aquela última pergunta era uma dúvida legítima. O contato do outro detetive devia ser muito bom para passar tantas informações, e sua memória ainda melhor, para responder tudo com tamanha naturalidade.
Após esta resposta, o bartender os levou por outra porta, escondida atrás de uma cortina, ao lado do bar. Desceram uma escadaria até uma sala minimalista, de paredes azul marinho com 4 poltronas pretas confortáveis dispostas em círculo, cada uma de frente para as outras, como um convite a uma reunião de amigos. O próprio bartender se sentou em uma, e fez sinal para que os detetives se sentassem nas outras. Se sentaram um de cada lado do bartender, que falou:
— Estes sonhos são poderosos. Por isso o primeiro uso acontece aqui, onde podemos garantir sua segurança.
Quando o detetive mais jovem pensou em protestar, o outro falou.
— De acordo.
O jovem empalideceu. Não lhe informaram que precisaria fazer algo assim. Na verdade, ficara tão ansioso por trabalhar com um detetive renomado que quase nada se informou.
O bartender pegou um pequeno frasco, com um pó amarelado.
— Bem, esta é a areia dos sonhos. — Ele a ofereceu ao detetive mais jovem, que sequer sabia como a utilizar. — Você parece perdido, rapaz. Deixe-me mostrar como funciona.
O bartender então pegou sua cabeça com uma força que não parecia ter, deitou-a para trás e despejou alguns grãos do pó sobre os olhos do detetive. O ardor foi insuportável, porém rápido. O alívio, imediato. O mundo começou a dançar à sua volta, como se estivesse na segunda garrafa de conhaque. E então vieram os sonhos. Ele olhava para as paredes e elas não existiam. Ele podia ver os esgotos ao redor da sala, grandes salões sob a terra, com ratos e outros animais se movendo pelos espaços fechados. Ao olhar para cima viu a garota terminando sua apresentação. Ele a preferia nua, e era como ela se apresentava. Então a visão voltou ao normal. O bartender e o outro detetive o observavam com curiosidade, e foi este último que perguntou:
— Já voltou?
Ainda sentindo-se embriagado, ele respondeu:
— A visão sim. Mas o mundo ainda gira.
— Quer mais um pouco? — era o bartender — A dose que você experimentou era muito pequena.
Ele pensou em dizer não. Ele até mesmo tentou.
— Sim.
O jovem detetive não estava bem o suficiente para acompanhar as trocas de olhares entre os outros dois, mas ainda assim a conversa soou estranha.
— Você piorou os efeitos colaterais e diminuiu o tempo do sonho.
— Ao menos a fórmula está mais barata.
— E novamente vai para as ruas.
— Vai dar lucro.
— Não é esse lucro que eu procuro.
— Não se preocupe. O cientista vai encontrar a fórmula certa pra te tornar um super detetive. Só não sei por quê essa sua vontade. Dinheiro não é poder suficiente pra você?
— O que eu quero o dinheiro não compra.
— E o que a gente faz com ele?
— O mesmo dos outros. Uma overdose de mnemofluor. Depois disso ele nem vai mais conseguir organizar os pensamentos.
...
Para ele, não há mais salvação.

A Invenção



Dentro daquele inferno cristão havia apenas um homem. Alto, forte e resistente, adaptado àquele trabalho que poucos conseguiriam suportar. Pegou a pá, que estava tão quente que outros humanos não conseguiriam fazer o mesmo, ao menos não sem um grito de dor e uma desesperada busca por ataduras. Seu corpo, porém, estava acostumado ao calor e não se queimava mais. A pele, já definitivamente avermelhada pelo contato contínuo com tão altas temperaturas, tornara-se resistente aos efeitos deste calor quase a um nível sobre-humano. Pegou mais uma grande porção de carvânico, um tipo de carvão concentrado criado pelos cientistas de sua época, que queimava por muito mais tempo e muito mais quente que o carvão comum, e que era muito mais pesado também, ao ponto de crianças desafiarem umas às outras em desafios de força, a tentarem erguer mais de um torrão ao mesmo tempo — e muitas não levantavam sequer o primeiro torrão. Ele alimentou a fornalha e ficou observando as chamas. Já a 12 horas estava ali. Não sabia o que transportavam, mas sabia que era algo importante, e no fundo orgulhava-se de fazer parte daquela comitiva, ainda que de modo anônimo. Pois ele sabia que eram realmente poucos os que conseguiriam fazer o seu trabalho, e da maneira como ele o fazia.
E por isso era ele o responsável pela fornalha daquele trem.
Porque havia muita pressa e poucas mãos. E nenhuma mais forte ou resistente do que a dele.
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No teto do terceiro vagão havia uma abertura, para quem precisasse subir no trem a partir da parte de dentro. Normalmente era utilizada para limpeza, mas dessa vez não. Dessa vez ela fora aberta com a locomotiva em movimento, e um exímio atirador limpava seu rifle sentado, tranquilamente, no teto do trem em movimento. A velocidade era constante — a máxima — o que facilitava um cálculo mais tranquilo da velocidade do vento e de sua influência sobre as balas que seriam disparadas. E não havia dúvidas, elas seriam disparadas. Sua intuição nunca mentia.
Ele observou a arma, olhou para as outras duas à cintura, e gostou do que via. Testou o maquinário das duas armas ocultas nas mangas, e aproveitou para observar a luz do sol no brilho prateado das duas. Guardou o rifle no coldre magnético das costas e pegou o outro rifle das costas para iniciar sua limpeza. Números ímpares lhe davam azar, e por isso suas armas eram sempre em pares. Sempre armas gêmeas. Assim como eram dois os seus olhos, e funcionavam ambos muito bem. E por funcionarem tão bem eles viram o que vinha atrás do trem, distinguindo seus inimigos, seus rostos e suas armas, a uma distância que impossibilitaria outros de fazerem o mesmo. Mas ele não era os outros. Para tristeza dos que se aproximavam.
Tomou um gole do whisky amargo e vagabundo, olhou para o lado e a tranquilidade desapareceu.
Hora de trabalhar.
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Ela palitava os dentes com uma bela faca, completamente feita de metal. Até mesmo o cabo. Metal negro.
O conjunto de 5 facas havia sido presente do cientista, feito com o que restara da invenção que carregavam. O metal era precioso demais ser deixado sem forma, segundo ele. Ela sabia que ele estava querendo algo mais com isso, ainda que não fosse realmente tentar alguma coisa. Era sua melhor arma aquela, a mais afiada — a sedução. Seguida de perto pela falsa inocência. Quando mais jovem costumava ficar chateada pelo lento desenvolvimento do seu corpo, insegura quando se comparava com as amigas, mas o tempo provou que aquilo vinha a seu favor. Afinal, seus rosto e corpo infantis permitiam que ela se fingisse de indefesa sempre que necessário. E quando resolvida ser sensual não importava o corpo, apenas ser mulher era suficiente contra a grande maioria dos homens.
Ela observou novamente a faca, sentiu seu peso balanceado, e a atirou contra a porta do vagão. O estranho metal negro perfurou o aço como se fosse manteiga em 5 lugares diferentes, as 5 facas formando um círculo perfeito. Um observador atento não a teria visto sacar as outras facas. Ela esticou a mão na direção das facas, uma de cada vez, e elas voaram de volta à sua mão. Um tipo diferente de magnetismo, muito forte e preciso, que apenas funcionava com aquele metal. Através dos buracos, seu olhar encontrara o do cientista. Talvez ele conseguisse o que queria. Seria bom ter uma reserva maior destas belezas afiadas.
E já havia feito mais por menos para chegar até ali.
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O cientista vivia um misto de preocupação e ansiedade. Aquele não era o seu estilo de vida, não era um aventureiro, sempre na tênue linha entre a vida e a morte, decidindo isso na força, precisão ou velocidade das mãos. Ele sobrevivia com o cérebro, e ainda que os pensamentos sejam rápidos, a velocidade do raciocínio nunca é igual à agilidade da execução. Fato especialmente verídico, no caso dele.  No entanto, mesmo com a vida em risco, sabia que a preocupação era maior do que deveria. Estava com os melhores, afinal. E caso eles não fossem suficientes, bem, nesse caso ele faria o teste prático de sua invenção, e se ISSO não fosse suficiente para salvar sua vida, bem, então não seria também importante o suficiente para justificar tal empreitada. Entretanto, a empresa existia.
E enquanto ele devaneava sobre sua capacidade e como ele usaria isso para chegar à bela jovem do outro lado da porta, o trem tremeu, se inclinou e tombou, ainda em movimento. Pois nenhuma arma ou lenda conseguiria impedir um avião à distância, quando este seguia convicto em direção a um destino e, literalmente, se atirava sobre ele.
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No horizonte via-se a cidadela do cobre, para onde se encaminhava a locomotiva. Mas ela não chegaria ao seu destino.
No lado de dentro das ferragens, o atirador sentia a fisgada na perna esmagada e, com certeza, perfurada. A garota conseguira sair com o cientista, graças a ele — e à agilidade felina da moça, tinha de assumir — mas ele não. Os dois grandes carros os alcançaram, e chegaram atirando. Várias motos chegaram também, reforçando o grupo inimigo. Na verdade, eles já pareciam um pequeno exército. Os tiros foram bloqueados por uma grande placa de metal sustentada pelos braços de um homem moreno-avermelhado, e ela reconheceu no instante seguinte a porta do primeiro vagão, a porta da fornalha. A porta do inferno.
Deixando o cientista em segurança atrás do escudo improvisado ela correu lateralmente, arremessando uma faca, que atravessou o peito de um dos atiradores inimigos. A faca ainda voou por um momento, dois atiradores ao lado do morto miraram nela, e ela esticou o braço. A faca, ainda no ar, girou numa parábola e retornou para atravessar um segundo atirador. Ela não parara de correr, para evitar os tiros do terceiro inimigo, mas estes não vieram. O inimigo, assim como outros 5 ao redor dele, estavam caindo com tiros no peito ou na cabeça.
Até que era útil ter um exímio atirador no próprio time também.
Vendo que ele precisaria de tempo para recarregar suas pistolas, ela puxou as outras 4 facas e se colocou entre o aliado caído e os inimigos. E só então percebeu o cientista encolhido debaixo do grandalhão, que se esforçava por protege-lo. Ela arremessou as facas enquanto corria na direção dos inimigos, se desviando dos tiros. Foi atingida no braço esquerdo, mas ainda tinha o outro braço, o que deveria ser suficiente. Ela pulava como um macaco entre os inimigos, recebendo apenas ferimentos de raspão enquanto os derrubada. O fato era que, enquanto eram úteis a distância, também eram inúteis àquela distância as armas inimigas. Principalmente porque, cada vez que erravam um tiro, atingiam um aliado ao invés da inimiga.
O esforço, porém, aumentava sua circulação sanguínea, e os ferimentos jorravam o precioso líquido vermelho. E ela enfraquecia. E a velocidade diminuía.
Quando achou, porém, que não conseguiria mais lutar, percebeu que também não precisaria. Pois um tiro na lateral da cá cabeça do inimigo à sua frente mostrou a ela que o atirador estava pronto novamente. Ela recuou de costas, ainda lutando, enquanto balas zuniam bem próximas de suas orelhas, nunca precisando de dois tiros no mesmo oponente. Chegando de volta ao que restara do trem ela viu o motivo da demora para a recarga. O atirador não apenas havia recarregado suas armas, mas também se posicionado de forma melhor. O grandalhão aproveitara a distração dos inimigos — ou seja, ela — para tirar o atirador das ferragens. Ele agora atirava escondido, utilizando pós destroços como trincheira. O cientista ainda se encolhia de medo, até que a ponta de uma bota encontrou seu estômago.
"Nós estamos morrendo por uma arma que não serve pra nada?"
O pânico havia falado mais alto, e apenas aquele chute o tirara do torpor que a surpresa causa a quem não está acostumado a combates. O cientista, então, apalpou os bolsos e encontrou dois pequenos cilindros metálicos, que enfiou em equipamentos presos aos antebraços, por dentro das mangas. E apertou um botão na placa que trazia no peito, também por baixo da roupa. E um grande estrondo de metais de batendo veio de dentro do carro-laboratório. No segundo estrondo o teto se rasgou.
O terceiro estrondo foi a saída definitiva daquela armadura negra.
A garota não saberia dizer se sentia deslumbre ou angústia. E depois soube dizer. Sentia medo.
Uma faca atravessara sua garganta, indo se fincar aos pés do cientista. O metal da armadura era o mesmo das facas. O magnetismo era o mesmo também.
Em choque, o cientista soltou o botão do cinto, e a armadura foi ao chão. Sem alguém que lhe desse cobertura, o atirador foi cercado pelos inimigos e fuzilado. Era perigoso demais para sobreviver. O cientista e o grandalhão haviam sido rendidos. Até que o grandalhão esmagou a cabeça do cientista contra a ferragem mais próxima.
"Vocês podem roubar a tecnologia, mas não o conhecimento." - E ainda matou uma dúzia de inimigos antes de o matarem.
A missão, porém, tinha sido um sucesso. Afinal, a sociedade continuaria refém do vapor. E do carvânico. Além do mais, o grupo ouvira dizer que o tal cientista tinha um aprendiz. E a informação era quase correta. Era UMA aprendiz.
E até que ela fosse encontrada, os segredos da eletricidade e do eletromagnetismo estariam bem guardados nas mãos de sujos colecionadores.